O
Congresso Nacional vem discutindo, há muito tempo, diversas reformas
necessárias ao aprimoramento de nossas instituições como, reforma política,
reforma tributária, reforma previdenciária, etc. Não chegam a nenhuma
conclusão.
Por
que estas resistências inatas, partidas principalmente de nossas elites, a todo
processo reformista? Porque, basicamente, somos um povo essencialmente
conservador. Nossa história está repleta de episódios e exemplos em que os
reformistas sempre foram olhados com desconfiança. Toda a marcha histórica
brasileira denota esta característica. E isto se dá principalmente porque somos
uma nação essencialmente portuguesa, resultante de sermos um país que construiu
sua própria população.
Os
portugueses, na época da colonização, vieram para o Brasil sem as mulheres e
acasalaram-se aqui com as únicas mulheres existentes, as da raça tupi-guarani
e, mais tarde, com as escravas africanas. A contribuição européia para formação
de nosso povo se fez, maciçamente, através dos homens. E este homem era o
português.
O
caráter, o sentir, o comportamento do brasileiro, em sua maioria, é pois,
fundamentalmente português. Do caráter conservador do português ninguém tem
dúvida. As causas deste comportamento, esta acomodação ao status quo,
ninguém melhor nos descreve que Antero do Quental em “Causas da decadência
dos povos peninsulares nos últimos três séculos”: “Governa-se então pela
nobreza (...) o espírito aristocrático da monarquia, opondo-se naturalmente aos
progressos da classe média, impediu o desenvolvimento da burguesia, já na
industria, já nas ciências, já no comércio. Sem ela, o que podíamos nós ser nos
grandes trabalhos com que o espírito moderno tem transformado a sociedade, a
inteligência e a natureza? O que realmente fomos: nulos, graças à monarquia
aristocrática! Essa monarquia, acostumando o povo a servir, habituando-se à
inércia de que espera tudo de cima, obliterou o sentimento instintivo da
liberdade, quebrou a energia das vontades, adormeceu a iniciativa;
quando mais tarde lhe deram liberdade, não a compreendeu; ainda hoje não a
compreende, nem sabe usar dela...” E ainda Werner Sombart; “A
incompatibilidade do português com o espírito capitalista recebeu, de um
extremo ao outro, a explicação do sangue celta e da preguiça espanhola.” Exageros... Mas quanto isto explica algo do
Brasil hoje!!!
A
tendência de olhar o Estado como “fonte de todos os milagres e pai de todas
as desgraças” amorteceu o espírito de iniciativa e incentivou o estado
ditatorial, atitude reforçada pelas idéias positivistas de início da República.
Estas características conservadoras, a tradição mercantilista na formação
brasileira – outra herança portuguesa – o despreparo de nossas elites, falta de preparo técnico das classes trabalhadoras,
a permanência do Estado paternalista e colonizador, os “salvacionismos” envolvendo as Forças Armadas, que geraram
regimes “fortes”, são resistências difíceis de vencer. Isto explica as
resistências às reformas, como estamos vendo atualmente. Espero que estas
resistências sejam vencidas para o bem do povo brasileiro.
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