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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Era da inovação


Quando se estuda a organização política e administrativa das nações, não podemos deixar de fazer algum paralelo com organizações empresariais privadas. O americano Tom Peters, famoso consultor de administração, lançou, recentemente, interessante livro com o título de “The Circle of Innovation” (o Círculo da Inovação). Nele aborda os problemas do mundo atual, pelo extraordinário avanço da tecnologia, principalmente no campo das comunicações, levando à completa revolução na administração das empresas. Começa seu livro com esta sentença: “Tudo que o fez bem sucedido no passado não o fará (bem sucedido) no futuro”. Quer ele dizer que tamanha é a mudança nos métodos e conceitos de administrar que o que aprendemos no passado para bem administrar, já não serve nos dias de hoje. Basta pensar no extraordinário avanço no disseminar dos conhecimentos que é a Internet e as comunicações por satélites. Telefonar de Londres para Nova York leva, praticamente, o mesmo tempo que telefonar para o vizinho do lado. Isso causou o que chamou de “morte da distância”, com tremendo impacto sobre as forças econômicas que modelam a sociedade. E continua: Quinze anos atrás as companhias competiam pelo preço. Hoje competem pela qualidade. Amanhã será pelo projeto (design). E, dá a tônica de seu livro: para conseguir sucesso: é preciso inovar. E, para inovar, diz ele, é preciso descentralizar. As modernas empresas procuram dar autonomia aos seus departamento, incentivando a imaginação criadora de seus núcleos operacionais. Acabou-se a organização piramidal com o presidente sentado no topo, tudo dependendo de suas decisões. Estes conceitos servem tanto para organizações privadas quanto para públicas. E o Brasil? Estamos conseguindo inovar em matéria de administração pública? Analisemos alguns aspectos nestes últimos anos. Conseguimos considerável progresso com o fim do monopólio estatal nas telecomunicações e petróleo. Falta completar a área da eletricidade. Grandes benefícios advirão com a instituição das agências reguladoras no trato direto dos problemas. A definição das carreiras de Estado e a possibilidade de contratar funcionários pelo regime da CLT, semelhante às empresas privadas, é outro progresso. O que se estranha é a manutenção de tantos ministérios, muitos deles com atuação superposta às agências reguladoras. É preciso inovar neste sentido. Na área da previdência, tropeços. Insistimos em manter o sistema de reparação quando deveríamos partir para o sistema da capitalização. Quaisquer que sejam os descontos feitos dos trabalhadores ativos – e já pensa-se também nos inativos – com o tempo, jamais sustentarão a folha de pagamento dos inativos. As nações mais adiantadas já compreenderam isso. Mas nós, resistimos. No ponto de vista das reformas políticas, estamos na estaca zero. Proliferam os partidos sem representação e outras e outras mazelas que discutimos há anos. Nesta matéria não inovamos nada e estamos na era dos dinossauros. Discute-se a reforma do Judiciário, se devemos controlar juizes, suprimir tribunais, etc., etc., quanto o mais importante para o Judiciário é a reforma dos códigos. Nosso código basilar, o Código civil levou vários anos no Congresso, em estudos, e quando foi promulgado já estava ultrapassado em vários artigos. Como ele, lá estão também o Código Penal, e diferentes códigos de processo. Será, senhores congressistas, que a sociedade não mudou nestes quase cem anos? Como querem agilizar a justiça com estes códigos atrasados? Esquecem-se de que os juizes tem que julgar de acordo com os códigos em vigor. Em matéria de funcionamento do judiciário, nossa capacidade inovadora tem sido praticamente nula. Chegamos a assunto vital: a questão dos tributos. O que se produziu até agora tem sido de pouca importância para os contribuintes. Brigam União e Estados esquecendo-se de que estamos em uma Federação e que o direito dos Estados instituírem impostos deve ser respeitado. Acabar com a guerra fiscal? Ótimo para os estados já industrializados como São Paulo mas, como fica o Piauí para atrair investidores? E, voltando à tônica do livro de Tom Peters, inovação, cremos que as autoridades locais podem mais facilmente inovar, atendendo as peculiaridades de suas regiões, do que a União. Os brasileiros, em geral, são inovadores, gostam de coisas novas e aderem rapidamente aos avanços tecnológicos. Mas tem contra eles o obsoletismo da imensa máquina burocrática governamental e a mediocridade de certos políticos que dizendo-se progressistas são a vanguarda do atraso. É hora de lutarmos contra isso sob pena de jamais atingirmos o patamar de nação desenvolvida.
* Escritor, Membro do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio

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