O candidato José Serra disse, outro dia, verdade insofismável: “Custa mais caro transportar soja de Mato Grosso até Paranaguá ou Santos, que destes portos à China”. Repetiu o que venho escrevendo, há anos, sobre a deficiência da infraestrutura de transportes no Brasil e, a má escolha do tipo de transporte usado. País com mais de 40.000 ( quarenta mil ) quilômetros de vias fluviais navegáveis, pouco uso faz delas.Nossas ferrovias foram mal administradas quando estatais e, só agora ensaiam ligeira recuperação, quando as deficitárias estatais foram privatizadas.Baseamo-nos inteiramente no transporte rodoviário, o mais caro de todos e, alem disto, tem seus custos aumentados pelas péssimas condições das rodovias. Pode-se afirmar que, por causa físicas, em números médios, o transporte por hidrovias é 4 vezes mais econômico que o ferroviário e, 12 mais econômico que o rodoviário.Os números são claros. O Brasil em todos recentes governos tem negligenciado o aproveitamento das vias fluviais e das ferrovias. Vou citar alguma obras que no meu entender, como especialista no estudo do transportes no Brasil, considero altamente prioritárias.
Em primeiro lugar vem a Hidrovia Araguaia-Tocantins. O rio Tocantins. , com a construção da barragem de Tucuruí e terminação da construção da eclusa ,tornar-se-á navegável numa extensão de 715 km, desde Belém até Imperatriz (MA). No rio Araguaia, afluente do Tocantins, espera-se a construção da barragem de Santa Isabel, obra simples com projeto e concorrência de construção realizados.No entanto a obra está paralisada desde 2002 por objeções do Ibama. Vencido este obstáculo o interior do Brasil ficaria com excelente hidrovia com 2515 km, desde Belém até a cidade de Balisa (GO). Mato Grosso é hoje o maior produtor de soja do pais, e a soja em vez de escoar-se pelo porto de Paranaguá ou Santos, seria embarcada pelo porto de Vila do Conde, próximo a Belém. Isto economizaria 5000 milhas marítimas e, o transporte rodoviário até aqueles portos, com notável barateamento do preço da soja brasileira no mercado mundial pois, como disse anteriormente, o transporte hidroviário é 12 vezes mais barato que o rodoviário.
Outra importante obra é a Ferrovia Norte-Sul que partindo de Açailândia (MA), onde se interliga com a estrada de ferro Carajás, já construída, segue em direção ao sul, até Senador Canedo (GO) completando a ligação com o sistema ferroviário sul. Uma vez concluída trará grandes benefícios à região central do Brasil, onde grandes empreendimentos agropecuários estão em desenvolvimento mas, carentes em transportes, encarecendo a produção.A soja produzida poderia escoar-se pelo bem equipado porto de Itaquí, em São Luis, dos mais bem dotados do país em matéria de calado, podendo receber navios até 300.000 tdwt e, excelentemente bem equipado para graneis e carga geral.A obra está incluída no PAC mas, lamentavelmente, vai a ritmo lento.
Terminando não posso deixar de lembrar o que dizia o naturalista Saint Hilaire em seu livro “Viagem às nascentes do Rio São Francisco”escrito em em 1824, comparando nossos rios aos rios europeus: “Como são insignificantes nossos cursos de água, comparados com estes rios caudalosos e extensos, que atravessam tantas e tão variadas regiões e cujas águas depois de banharem a floresta majestosa da zona tórrida, vão regar a humilde vegetação dos climas temperados. Infelizmente, muitos anos ainda vão escoar-se antas que os brasileiros possam tirar bons proveitos da natureza e que contem com outros meios de comunicação além de seus burros,atualmente os únicos navios de seus desertos.”
E lá se vão 186 anos desta profecia. Espero que o candidato Serra, uma vez eleito Presidente, lembre-se do que disse como candidato. Vamos esperar e confiar porque, como disse Cesare Pavese escritor italiano: “Esperar é ainda uma ocupação. Terrível é não ter nada que esperar”.
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