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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Eugênio Gudin: recordando um sábio

Tive a satisfação de conviver com um dos grandes brasileiros que conheci: Eugênio Gudin. Já nonagenário, Gudin conservava a plenitude de sua inteligência e conhecimento das coisas do Brasil. Escrevia, diariamente, coluna em jornal de grande circulação do Rio de Janeiro, sobre o que gostava: discutir problemas brasileiros. À época eu também militava na imprensa, escrevendo artigos semanais no “Jornal do Brasil”, “O Estado de São Paulo” e “Tribuna da Bahia”. Gudin às vezes comentava, nos seus artigos, trechos dos meus. Isto nos aproximou. Quase diariamente visitava-o no seu escritório na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. Quanto aprendi com estes encontros! O saber de Gudin jorrava com simplicidade.Os encontros, às vezes, se prolongavam até sua casa em Copacabana. Ambos gostávamos de vinhos e ele tinha excelente adega.Mas, era o Brasil o assunto. Gudin formado em engenharia começou sua vida profissional construindo ferrovias, exemplo da Great Western no Nordeste. Depois enveredou pelo campo da economia, tornando-se um “expert”. Foi dos primeiro a colocar a matéria nos bancos escolares. Foi dos responsáveis pela implantação, na Fundação Getulio Vargas, do Instituto Brasileiro de Economia e da Escola de Pós-Graduação, dos quais tornou-se diretor.
Pesquisando papeis velhos encontrei preciosidades escritas por Gudin que, tenho o prazer de trazer aos leitores. Verifiquem como muitas delas, escritas há muito tempo, ainda cabem no Brasil de hoje. Separo por assuntos. Democracia: “Pratica a democracia quem tem capacidade para isto, quem tem cultura e educação. Democracia não é coisa para analfabetos, para mal educados e tampouco para quem não tem maturidade”.(1983); Inflação: “Não é preciso mudar o modelo econômico brasileiro. Basta entregar sua execução a gente competente. A inflação não é resultado do modelo e nem da estrutura, e sim dos homens”. (1979). Estatização: “Vivemos, em princípio, em um sistema capitalista. Mas, o capitalismo brasileiro é mais controlado pelo Estado do que o de qualquer outro país, com exceção dos comunistas”(1974). FMI: “O mal não é o FMI. A questão se situa na capacidade ou não dos homens cumprirem as metas. Não se pode fazer acordos com gente em quem não se pode confiar” (1984). Monetarismo: “A teoria quantitativa da moeda é uma verdade, mas não posso dizer que só ela resolva os problemas do Brasil” (1985). Desenvolvimento: "Acho que a pedra angular do desenvolvimento brasileiro e, o mais importante problema brasileiro, é a agricultura, a questão rural” (1972).Controle dos preços: “Nunca fui favorável a esta espécie de intervenção governamental nos preços, salvo casos de monopólio. Isto porque até agora, a lei da oferta e da procura não foi, que eu saiba, revogada. Forçar artificialmente os preços para baixo tem um nome muito conhecido: chama-se inflação reprimida, que há de estourar nas mãos de alguém” (1973 ). Seus erros: “Devo ter cometido muitos erros. O problema é lembrar. A questão é que penso hoje dentro da mesma linha geral do início do século. Nunca fui comunista e nem fascista” (1975), Sua vida: “ A única coisa da qual tenho medo é do julgamento da posteridade. Mas, esse quando vier, já não estarei aqui”(1978). E termino com esta perola: Amantes: “Em toda minha vida só tive uma amante: o Brasil. Mas, ele me traiu a vida inteira” (1984)
Quantas verdades, e que podem servir ao Brasil de hoje. No Executivo, o que vemos é aumento do déficit público, e empreguismo de “companheiros”. Mais de 200.000 foram contratados pelo atual governo. Falta de seriedade e corrupção no Legislativo. Judiciário com sua morosidade e códigos obsoletos, sem atender aos reclamos dos cidadãos. Nossos indicadores sociais são ainda muito ruins. Neste quadro pergunto: temos democracia no Brasil? A resposta está no que disse Gudin a respeito de democracia.
Eugenio Gudin faleceu com mais de 100 anos, em plena lucidez. A ele se aplica, integralmente, o que disse Albert Einstein “Uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio o previne”.

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