Pages

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Hidrelétricas e navegação fluvial



Impressionante como os poderes públicos descuram da navegação fluvial ao executarem projetos de hidrelétricas. Poucos são os que contemplam, na estrutura das barragens, a construção das eclusas para permitir a navegação continua, que a barragem, forçosamente, interrompe.São inúmeros exemplos. Por ocasião da construção de Itaipu, escrevi artigo: “Itaipu: e a navegação ?”, em que urgia a necessidade da eclusa para permitir a navegação continua no Rio Paraná, já que íamos vencer as cataratas. Não fui ouvido. Com a construção das eclusas nas diversas barragens do Rio Tiete , afluente do Paraná , e que atravessa o estado de São Paulo, poderíamos, se tivesse sido construída a eclusa em Itaipu, transportar cargas via navegação interior, desde próximo a capital, São Paulo, até Buenos Aires. Que economia de custos eliminando o atual transporte marítimo ! Por ocasião da construção de Tucurui, no Rio Tocantins, felizmente, foi executada a obra civil para implantação da eclusa. Mas, até hoje, decorridos mais de vinte anos, não está em funcionamento, esperando a colocação das comportas, ainda em construção.E, poderia citar varias obras em nossos rios, como no São Francisco, em que várias hidrelétricas foram construídas sem as necessárias eclusas, interrompendo a navegação no rio. No momento, com a construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira,importante via de escoamento de produtos no centro-oeste,perguntei a especialista se o projeto previa a construção de eclusas, para não interromper a navegação. “Não. Os órgãos ambientais foram contra pois, dizem, iria aumentar muito o tráfego no rio causando poluição”, respondeu-me. Grande bobagem.Para transportar mil toneladas de carga precisamos de 50 caminhões , com 50 motores despejando gás carbônico na atmosfera. Para transportar a mesma quantidade de carga em hidrovia, precisamos apenas de 1 (um) rebocador empurrando chatas, ou seja, apenas 1(um) motor lançando gás na atmosfera. Quem polui mais? E, nunca é demais lembrar que o transporte fluvial é 12(doze) vezes mais barato que o transporte rodoviário.
Os leitores devem ter notado minha insistência em lutar pelo transporte fluvial As razões estão aqui demonstradas. Alem do mais, inúmeros são os exemplos de países do mundo, que souberam aproveitar seus rios para baratear os custos de transporte. Nos Estados Unidos temos a formidável obra do Canal Erie, ligando o Lago Erie, no meio-oeste, ao Rio Hudson a leste,embarcando as cargas de exportação pelo porto de Nova York Construído em 1825, com cerca de 400 km de extensão, trouxe enormes progressos à região. Mais tarde a hidrovia do Mississipi , com suas inúmeras eclusas , é hoje a principal via de escoamento da produção do centro-oeste americano. Para não falar da hidrovia Danúbio-Reno, na Europa, totalmente navegável, graças às eclusas de navegação, desembocando em Rotterdam, hoje o maior porto do mundo.
Não adianta querer ser nação desenvolvida, ignorando aspectos técnicos do transporte da produção. Este tem sido sempre o gargalo que anula esforços de nossos empresários, que lutam, denodadamente, para competirem no mercado internacional.
E, as advertências não vêem de hoje. Vejamos o que já dizia o naturalista Saint Hilaire em seu livro.”Viagem às nascentes do Rio São Francisco”, escrito em 1824 e, comparando nossos rios aos rios europeus : “Como são insignificantes nossos cursos de água, comparados com esses rios caudalosos e extensos, que atravessam tantas e tão variadas regiões e cujas águas depois de banharem as florestas majestosas da zona tórrida, vão regar a humilde vegetação dos climas temperados. Infelizmente, muitos anos ainda vão escoar-se antes que os brasileiros possam tirar bons proveitos da natureza e que contem com outros meios de comunicação além de seus burros, atualmente os únicos navios de seus desertos”
Tristemente notamos que tinha razão.E lá se vão185 anos desta profecia.Mas, vou continuar lutando pelas hidrovias. E esperando. Pois como dizia Cesare Pavese,escritor italiano:
“Esperar é ainda uma ocupação.Terrível é não ter nada que esperar”.

Nenhum comentário: