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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Nossos rios e o desenvolvimento





Em país carente de recursos como o nosso, as prioridades para o desenvolvimento têm que ser bem escolhidas, e os projetos, o maior efeito multiplicador. Não falando do investimento em educação que, indubitavelmente, é o que traz maiores retornos, sob todos os sentidos, localizemos um outro importante fator de desenvolvimento: a navegação fluvial. No Brasil, quando estudamos nossos rios, pensamos apenas no aproveitamento hidroelétrico. Aí começa o erro. Um rio tem de ser estudado sob todos seus aspectos. Antes de mais nada o projeto deve visar o controle das enchentes, a regularidade da navegação. Para isto, há que se construir barragens, eclusas, etc. As barragens propiciam geração de energia elétrica. As eclusas, a navegação. Também não se deve esquecer os benefícios trazidos pelos lagos formados, para a irrigação, piscicultura, etc. Além disto o transporte de mercadorias por hidrovias é cerca de 20 vezes mais barato que o transporte rodoviário. É de lamentar pois, que nos muitos empreendimentos feitos no Brasil para aproveitamento hidroelétrico, tenha- se esquecido da construção de eclusas para permitir a navegação continua. Quando da construção de Itaipu, escrevemos artigo com o título: "Itaipu e a navegação", em que urgíamos a construção da eclusa para permitir a navegação continua no rio Paraná, até Buenos Aires. E note-se que a eclusa de navegação, quando construída na mesma ocasião da barragem, custa apenas 10% do preço desta. Não fomos ouvido. Pois bem. Com a barragem de Jupiá, o rio Tietê tomou-se inteiramente navegável, cortando o rico interior paulista, desde Laranjal Paulista até o rio Paraná, numa extensão de cerca de 900 km. Tivéssemos feito a eclusa em Itaipu poderíamos navegar por via interior até Buenos Aires, transportando milhares de toneladas de mercadorias, com custo infinitamente inferior ao dos outros meios de transporte. Além do aspecto turístico, com embarcações, barcos de lazer, coisas que existem em outros países que sabem aproveitar seus rios. Para o Mercosul, e para toda região, que efeito econômico traria esta hidrovia! A construção da eclusa de navegação em Itaipu é obra urgente que não pode ser adiada. O custo agora é maior e, as dificuldades para construção também. Mas a nossa engenharia já tem condições de superar estes obstáculos. Outra obra que terá grande efeito multiplicador para nosso desenvolvimento é a hidrovia Araguaia-Tocantins. O programa, elaborado desde 1987, e conhecido como "Prodiat-Projeto de Desenvolvimento Integrado da Bacia do Araguaia-Tocantins", é extraordinário. Quem lê este projeto, abrangendo todos os aspectos: agropecuária, transportes, extrativismo vegetal, etc., fica entusiasmado com o imenso desenvolvimento que poderá trazer ao nosso país. O rio Tocantins, com a construção da barragem de Tucurui, poderia tornar-se navegável numa extensão de 715km, desde Belém até Imperatriz, no Maranhão. Mas, pasmem os leitores: construída a barragem, foi iniciada a construção da eclusa, logo depois paralisada obstruindo a navegação! Está paralisada até hoje. No rio Araguaia, afluente do Tocantins, se for construída a barragem, ou canal, de Santa Isabel, obra simples, com projeto pronto ha vários anos, o rio ficaria com cerca de 1800km de via navegável. Somando com a parte do Tocantins o interior do Brasil ficaria com excelente hidrovia de 2400km, de Belém até a cidade de Baliza, em Goiás. Também importante é a navegabilidade do rio Paraguai, que fica impraticável para a navegação, na seca. A navegabilidade deste rio permitiria o escoamento da soja produzida no Mato Grosso do Sul – hoje o 2° produtor do país – até o porto de Montevidéu, onde seria exportada. O minério de ferro e o manganês de Urucum, cujas jazidas estão às suas margens, poderia ter o mesmo escoamento. O projeto está pronto, mas não foi executado pela objeção de alguns ambientalistas – sem fundamentos técnicos convincentes – de que iria esvaziar os rios do Pantanal mato-grossense. Não acreditamos que nossa engenharia não tenha pensado nesta hipótese ao fazer o projeto. Existem inúmeros recursos de engenharia para conter a vazão de rios, diminuir sua circulação, sem prejudicá-los. O projeto é um dos objetivos do Mercosul. Estas obras são apenas alguns exemplos de como nossa imensa rede hidroviária poderá tornar-se grande fator de desenvolvimento e geração de empregos. Estaleiros criar-se-ão às suas margens, tripulações terão que ser formadas, enfim, uma cadeia de novos empreendimentos será construída ao seu redor. E isto é desenvolvimento.

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